UTI Humanizada, um novo olhar!
Quando falamos de UTI humanizada, estamos falando de um espaço onde é permitido que pacientes em tratamento intensivo possam ser acompanhados por familiares 24 horas por dia, um processo totalmente contrário ao que acontece nas UTIs tradicionais.
A UTI Humanizada oferece os serviços de amplo monitoramento de sinais vitais e cobertura médica multidisciplinar, assim como em uma UTI convencional. O grande diferencial está na possibilidade de o paciente ser acompanhado 24 horas por dia, por um familiar. A permanência do familiar traz mais conforto e segurança para todos os envolvidos no processo: paciente, acompanhante e equipe médica.
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A importância da humanização!
O Projeto de Humanização Hospitalar foi criado em maio de 2000, pelo Ministério da Saúde, com o objetivo de promover uma nova cultura de atendimento na saúde que apoiasse as melhorias na qualidade e eficiência dos serviços prestados.
No processo de humanização, a prioridade é o paciente enquanto pessoa humana. Na relação entre profissionais de saúde e paciente deve ser valorizado a individualidade de todos os envolvidos, deve-se lembrar que o paciente tem uma história de vida, um histórico de doenças, experiência, desejos, sonhos e crenças. Tudo isso precisa ser levado em consideração no tratamento. É essencial que os profissionais enxerguem o humano que esta ali e não apenas a doença.
Para que a humanização funcione, é essencial a capacitação dos profissionais do setor, a integração entre a equipe (com uma comunicação fluída), contribuindo assim para a promoção de um ambiente acolhedor e favorável a todos os envolvidos no processo.
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Treinar humanidade?
É importante um treinamento constante da equipe. Mas treinar humanidade? Treinar seres humanos para serem humanos?
Sim, estranho, mas humanizar é uma habilidade e requer treinamento constante. É preciso recuperar a preocupação com a necessidade, ou seja, é preciso colocar-se no lugar do paciente. Treinar todos os dias ao entrar no quarto e dizer: "Meu nome é ..., minha função aqui é..., vou cuidar de você nas próximas horas e se precisar de mim eu estarei aqui". Isso é desligar o automático.
Na UTI, setor tão importante dos hospitais, esse tema toma enorme relevância, visto que os pacientes se encontram em maior situação de fragilidade, uma vez que ali estão por se acreditar que sua saúde careça de maiores cuidados. Já agredidos pela situação, os pacientes se sentem desamparados, se não puderem contar com a proximidade dos profissionais de saúde e de seus familiares, com esclarecimentos sinceros e honestos sobre sua situação. A percepção de fragilidade e abandono tem seus fundamentos baseados no comportamento de grande parte dos profissionais da UTI, ligados no automático, tem suas ações baseadas na realização de tarefas e ignoram os aspectos emocionais dos pacientes, violando seus direitos e sua dignidade.
A fragilidade emocional dos pacientes devido a doença e o medo se agrava por um ambiente sem janelas, que acaba passando mais aquele ar de um local frio, sem sentimentos, afeto e calor humano. Não é à toa que as UTIs foram e ainda são consideradas por grande parte da sociedade como um local de sofrimento, aflição, solidão, medo e morte. Por isso a adaptação do conceito de humanização para esses setores ajuda a compreender que ali é um espaço de cura, de cuidado amplo, de dedicação total ao paciente.
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A Humanização mudando a visão da sociedade sobre a UTI...
A UTI é um local de vida, de recuperação, de esperança, onde o impossível acontece, a humanização traz isso com ela e assim com o tempo a visão da sociedade sobre esse setor vai mudar. Os pacientes que estão em estado critico devem permanecer com seus familiares. A humanização da UTI constrói uma aliança terapêutica. O carinho e atenção do familiar trazem benefícios ao paciente em tratamento intensivo. Dados apontam que a presença de um familiar previne o delirium (confusão mental aguda muito comum em pacientes na UTI). Além disso, o acompanhamento presencial do familiar reduz a ansiedade e angústia da família, oferecendo a oportunidade de o familiar participar do cuidado do paciente internado.
O afastamento dos familiares é um dos principais fatores de grande estresse relatado por paciente internado em UTI, do outro lado temos os familiares que trazem a ansiedade do desconhecimento sobre o que acontece neste ambiente e a falta de notícias neste momento de intensos cuidados. Trazer o familiar para este momento proporciona conforto para ambas as partes e completa o cuidado.
A humanização em UTIs vem sendo aplicada em hospitais pelo mundo a fora, no Brasil alguns hospitais de grande porte já aderiram e aos poucos vai caminhando para adaptação em hospitais do SUS.
“A permanência ampliada proporciona uma recuperação mais rápida, o que é bom para o paciente e também para quem necessita de uma UTI, porque há um giro mais rápido do leito.”
Adriana Teixeira
Diretora de Atenção Hospitalar e Urgência do Ministério da Saúde.
A experiencia de uma estagiaria de Téc. de enfermagem na UTI
Estagiei em uma UTI de PS do SUS, o setor UTI muito me agrada, mas a UTI que estagiei me assustou, me fez perder a esperança, me fez deixar de acreditar que os pacientes saem vivos de la.
De todos os estágios e campos, esse foi o que de fato me marcou; digo que marcou por vários motivos, dentre eles o descaso e falta de humanização dos profissionais, comentários inadequados sobre o estado de saúde dos pacientes, aposta de qual horário o paciente iria " visitar Deus". Me marcou também pois foi ali que vi o paciente que dediquei dias de cuidado, atenção e esperança de uma melhora ir a óbito, impossível esquecer toda a cena da parada, todos indo para cima dele, realizando compressões totalmente erradas, uma falta de organização para atender uma RCP/PCR e eu ali ambuzando o paciente, buscando o resto de esperança que tinha para desejar e rezar por uma melhora, que ele voltasse e lutasse por sua vida, mas de nada adiantou, depois de 25 minutos tentando reanima-lo a médica declarou o óbito e então eu lembrei do livro Divina Comédia, do trecho em que Dante e Virgílio encontram na porta do inferno: "lasciate ogni speranza, voi ch'entrate", ou seja, ""Deixai qualquer esperança para fora, vós que entrais". Dentre outras coisas que presenciei durante o tempo que fiquei, mais duas pacientes que também prestei cuidados faleceram entre outros que não cuidei, mas que vi partir.
A grande questão é... se ali houvesse humanização,se houvesse mais afeto, mais cuidado, presença de familiares, isso teria acontecido, talvez os óbitos eram inevitaveis, mas a maneira da partida poderia ter sido diferente.
Não perdi o interesse em trabalhar na UTI, mas desejo entrar um um hospital que tenha adaptado uma UTI humanizada, onde eu possa entrar com minha esperança e não deixa-la do lado de fora.